A ADVOCACIA ESTÁ SATURADA, MUITA CONCORRÊNCIA, NÃO VALE A PENA! SERÁ?
outubro 30, 2022É muito comum ouvirmos que existe mais de 1 milhão de advogados (as) no Brasil, fazendo com que a concorrência seja extremamente esmagadora e a ascensão na profissão, nos dias atuais, seja quase impossível para quem não vem de família rica ou renomada.
Uma coisa é fato incontroverso: acesso e oportunidades são essenciais para o crescimento profissional e vivemos em um país muito desigual, acarretando em muita dificuldade de acesso para a maioria das pessoas.
Porém, é preciso ir além daquilo que os olhos enxergam nos noticiários, nas redes sociais e que os ouvidos escutam da boca dos pessimistas e acomodados que vivem na zona de conforto.
Outra coisa que é muito comum ouvirmos hodiernamente é o seguinte bordão: 1% talento, 99% esforço e dedicação. E isso também é fato incontroverso.
Não quero romantizar a desigualdade e as dificuldades que somos obrigados a nos submeter para poder "vencer" na vida quando viemos de baixo, mas é necessário esclarecer que é possível, sim! É possível fazer nome e dinheiro na advocacia ainda nos dias atuais sem família influente no ramo e sem aporte financeiro exorbitante injetado pela família.
Venho de uma família do interior do Rio Grande do Sul (e quando digo interior é MUITO interior) de classe média onde as oportunidades existiram, porém, limitadas.
Quem mora em interior sabe que existem famílias tradicionais que "mandam" na cidade e tem poder de influência suficiente para dizer que vai trabalhar onde e quem vai estudar onde etc.
Nunca tive aporte financeiro dos meus pais suficiente para custear boas escolas e bons cursos. Sempre estudei em escola pública e fiz pré-vestibular em um curso, digamos que falcatrua, que nunca me auxiliou a estudar de verdade e conseguir nota suficiente no ENEM para o curso de Direito (que sempre foi meu sonho).
Consegui nota para outros cursos, entretanto, não eram na minha cidade e ainda que fossem faculdades federais, não possuía condições de residir fora, pois os custos de vida são altos.
Então, o que eu fiz? Consegui ingressar em um curso técnico de informática, local onde minha vida mudaria para sempre e eu entenderia o valor dos 99% de dedicação... E também o preço a ser pago por isso.
Desde o inicio do curso técnico essa era a única coisa que eu tinha, não tinha um plano B, precisava imergir de cabeça e resolver minha vida nessa oportunidade que me apareceu, então assim agi.
Era o primeiro a chegar na aula e o ultimo a sair. Lia e relia todas as apostilas além de estudar toda a matéria antes, durante e depois da aula. Quando o professor dava um spoiler do que seria o conteúdo da aula seguinte, chegava em casa e já pesquisava tudo o que podia sobre aquele conteúdo para chegar na próxima aula "sabendo" a matéria.
Esse esforço além da média me gerou boas notas e um bom relacionamento com os professores.
Foi aí que comecei a entender que às vezes só precisamos de uma oportunidade bem aproveitada para que nós mesmos possamos criar as próximas oportunidades. Explico.
Com as notas lá em cima e a dedicação percebida pelos professores, quando a escola técnica recebeu demanda de uma empresa da cidade de técnico em informática quem vocês acham que eles indicaram? Aquele aluno que eles confiavam e que demonstrou comprometimento e dedicação, logo, criei com meu suor o que seria minha próxima oportunidade.
Sorte ou não, o emprego foi para ser T.I. em um escritório de advocacia. Pois é meus amigos (as), estava com a faca e o queijo na mão, era só lembrar: 1% talento, 99% dedicação.
Comecei como estagiário com horário reduzido, mas eu trabalhava em horário reduzido? Lógico que não! Chegava mais cedo, saia mais tarde, às vezes levava trabalho para casa até que minha carteira foi assinada. Quando minha carteira foi assinada, ainda morando com meus pais, destinei todo meu salário para fazer faculdade de Direito na cidade vizinha, uma faculdade particular.
E lá, comecei a ouvir: faz concurso... advocacia tem muita gente... advocacia não da dinheiro, é só estresse... etc (ouvia isso, inclusive, dos meus chefes na época que são advogados).
Mas nunca dei ouvidos, tinha meu objetivo (como tenho até hoje) e faria o que fosse preciso para atingi-lo.
Na faculdade não estudava tanto, mas conversava com os professores fora do horário da aula para saber como era a rotina de trabalho deles fora das aulas, lia processos, chamava outros estudantes para debater assuntos do direito e lia diversos livros sobre a área e assistia palestras e aulas online.
Sim, eu não tive muita vida particular ou de lazer desde a minha entrada no técnico até a OAB. Ela foi toda destinada a um propósito: "ser um advogado bem sucedido sem ter família rica e influente".
Após a faculdade permaneci por mais 6 meses no escritório de onde eu vinha, mas acabei saindo para trilhar junto com minha amiga (colaboradora deste blog) nossa jornada na advocacia criminal.
Um ano e meio após essa decisão, época em que escrevo esse texto, não me considero ainda um advogado bem sucedido, mas com certeza estou muito próximo disso. Já temos destaque na região em que atuamos, já conseguimos chegar na capital do Estado a trabalho e trabalhamos em inúmeras outras comarcas.
Como fizemos isso?
Trabalhando de inicio 14/16 horas por dia quando necessário, vivendo basicamente para estudar e trabalhar, aprender, desenvolver e aplicar. Não foi fácil e ainda não é (e acho que nunca vai ser), mas com certeza vai valer a pena.
E por mais que existam mais de 1.000.000 de advogados (as) por aí, nós estamos conquistando nosso espaço e sem desistir vamos cada vez mais e, ambos, sem origem rica ou influente, apenas usando 99% de dedicação e esforço.
Existem muitos advogados (as) no Brasil. Mas existem poucos BONS advogados (as) no Brasil.
Por: Felipe Macedo
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