Você aproveita o mundo com seus olhos ou com sua câmera do celular?

setembro 20, 2022


Recentemente tive o privilégio de assistir uma palestra de um professor de filosofia o qual admiro muito, o prof. Mário Sérgio Cortella, que se apresentou no salão de eventos da PUC-RS aqui em Porto Alegre.

Quando o Cortella entrou no palco a esmagadora maioria do público presente - quase - instantaneamente levantou seus celulares e começou a filma-lo, inclusive, eu.

Após uns 5 minutos de registro guardei meu telefone e comecei a dedicar 100% da minha atenção naquilo que o professor chama de "aula expositiva de filosofia", no entanto, percebi que muitas pessoas continuavam com seus celulares empunhados filmando e fotografando o evento.

Não que isso seja um problema, mas quando reparei em pelo menos umas quatro pessoas que estavam a minha frente e duas ao meu lado esquerdo, elas continuavam filmando, postando stories e registrando tudo que acontecia no palco, acompanhando o prof. com o celular onde quer que ele fosse.

Isso me fez notar que elas passavam mais tempo olhando o Cortella pela tela do celular enquanto o filmavam do que diretamente para ele, que estava ali, presencialmente. 

A partir disso, comecei a refletir o quanto estamos vendo a vida passar a partir da tela do celular em vez de vê-la com nossos próprios olhos?

Quantas vezes quando estamos diante de um pôr do sol lindo perdemos tempo de aprecia-lo vividamente pois estamos tirando 1001 fotos com 2907 efeitos diferentes? Ou quando encontramos uma pessoa que admiramos bastante e estamos mais preocupados em registra-la para expor nas redes sociais do que realmente aproveitar a sua companhia ou apresentação?

Quanto tempo de nossas vidas passamos olhando stories, reels e tiktoks de momentos bonitos e engraçados vividos pelos outros enquanto estamos sentados no conforto de nossos cômodos vendo o tempo passar apenas olhando para a tela do celular?

Em que momento enquanto sociedade esquecemos de aproveitar o que a vida tem de melhor para nos proporcionar para focar a intensa maioria do nosso tempo em rápidos prazeres que a internet oferece através de algoritmos minimamente pensados em prender nossa atenção?

Quantas vezes já reclamamos de algum ponto de nossas vidas não estar como gostaríamos que estivesse, seja no lazer, no amor, na profissão etc, mas quando olhamos a estatística de uso do Instagram tem lá uma média de 4 a 6 horas de uso por dia, fora os outros aplicativos?

Talvez eu tenha escrito esse texto como uma auto crítica, é verdade, mas tenho a mais plena ciência que o compartilhamento dele com você pode ajuda-lo a refletir sobre a sua vida e ajuda-lo a ter ciência de que muita das coisas boas da vida estamos deixando passar por estarmos vendo a vida através de pixels e não em real life.

Veja a sua vida com os seus olhos e não a partir da lente da sua câmera, pois, no fim, o que importa não são os gigas de conteúdo que você armazenou na nuvem, mas sim, as memórias que seu cérebro lembra das coisas boas que viveu.

Por: Felipe Macedo

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