Primeira vez que fui em uma audiência crime

janeiro 27, 2021

 

Estava no 7º semestre da faculdade quando começou a obrigatoriedade de assistir audiências reais e fazer um relatório dos acontecimentos em no mínimo 10 linhas. Eram necessários 15 relatórios para ser aprovado na cadeira de Pratica Jurídica I.

O objetivo da universidade era que o aluno tivesse contato com a prática jurídica e conhecesse como são as audiências na vida real, uma vez que o curso não tinha condições de ensinar o aluno como realmente funciona na prática.

Pois bem.

O intento do professor era que os alunos passassem pelo maior numero diversificado de audiências possíveis, ou seja, assistissem audiências da área cível, trabalhista, criminal, empresarial etc. Para conhecermos todas as áreas.

PORÉM, o que o Felipe fez? Sim, assistiu somente audiência criminal. 

obs.: eram 15 audiências por semestre do 7º ao 10º o que daria 60 audiências assistidas, eu assisti mais de 100.

Peguei meus 15 modelinhos de relatório e fui procurar a pauta de audiência no site do TJ/RS. Ignorei todas as audiências cíveis e anotei todas as crime com uma alegria imensurável.

Sempre amei Direito Penal, Processo Penal, filmes de júri e por aí adiante. Então era o meu momento!!!!!

Primeira audiência cheguei 15 minutos antes de começar. Era a primeira da tarde, então não tinha ninguém ainda, nem o juiz. Entrei na sala de audiências sentei e esperei ansiosamente.

Cerca de 20 minutos depois chegou o juiz e o promotor. Sentaram em seus devidos lugares e mandaram chamar o advogado.

Feitos os cumprimentos entre eles, conversaram um pouco até que o juiz pegou ligou para alguém no telefone e disse: manda subirem.

Até então não tinha me dado conta que os réus nãos estavam na sala. Tudo bem, vida que segue.

Quando a porta abriu, entrou um agente penitenciário armado. Bom, nesse momento lembrei de olhar para a pauta e ver qual era a "treta" do processo. Era um homicídio "triplamente qualificado".

Dois réus entraram algemados e sentaram do meu lado.

E sim, nesse momento tive medo. Dois caras fortes, altos algemados sentados do meu lado me olhando de cima a baixo enquanto não começava a audiência de instrução do processo que eles eram julgados por matar duas pessoas. Dois caras armados, um de cada lado da sala para fazer a segurança e um do lado dos caras só na vigia.

Meu relatório ficou todo errado. Toda hora eles me olhavam (eu era a única pessoa avulsa na sala) e com meu porte físico de grilo e rosto de criança, era meio chamativo. Suei muito e era inverno, nem me mexia direito.

Foi a primeira e até então, a única vez que senti medo dentro de um processo.

Nas audiências seguintes comecei a me adaptar melhor e assumir minha identidade dentro do "jogo", mesmo que ainda um estudante, já estava acostumado, cumprimentava o pessoal desde o juiz até os réus.

Entendi que "bandidos" são "bandidos" quando cometem um delito. Fora daquele momento específico, são pessoas normais (ou relativamente normais, afinal, quem é normal?). Eles sabem que erraram e sabem que vão ter que pagar!

Uns aceitam mais tranquilo, outros nem tanto, mas no fundo estão cientes.

Não é porque uma pessoa cometeu um crime que ela é bandida o tempo todo. É por isso que existe todo um processo. Para chegar a uma conclusão daquilo que aconteceu naquele momento, dia e hora. No resto, a pessoa é simplesmente uma pessoa. Pode ser boa ou má, mas uma pessoa com sentimentos, necessidades, desejos, anseios, medos e tudo mais.

Quem comete um crime precisa sim pagar por ele!!!! Mas pagar perante a justiça na forma que a lei conferir. E não pelo nosso preconceito.

Veja também: 03 Filmes jurídicos para refletir (eles vão mudar sua visão de mundo)

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